II
Ao tirarem-nos do comboio pude ver que tinhamos parado numa floresta, numa espécie de esconderijo do regime. Por um trilho ocultado por um largo arbusto, levaram-nos até a uma clareira onde se isolava uma cabana de dimensões consideráveis e alguns veículos à volta, como motas com sidecar, jipes e um carro que ostentava a cruz de ferro na capota, um estatuto reservado aos Oficiais e aos Heróis de Guerra.
Nada disto fazia sentido. Sendo um simples turista não entendia que desígnios poderiam possivelmente ter para mim, e que razões teriam para ter sido sujeito a tamanha violência. Garantidamente iriam receber uma carta incisiva da Embaixada.
Sentaram-nos numa sala, que tinha apenas algumas cadeiras e uma secretária. Quatro quadros do Saudoso Líder preenchiam as paredes, mostrando-o de frente, de perfil (à direita), participando numa caçada e discursando. Delegaram um soldado raso para nos tirar as cordas. Assim que o soldado as soltou ao primeiro cigano, este leva imediatamente a mão à sola do sapato de onde graciosamente tira uma navalha, apanhando de surpresa os soldados. Com rapidez, rasga a barriga do mais próximo. Já ele se dirigia para outro quando se ouve um tiro e o cigano cai morto, escorrendo sangue de um buraco da cabeça. O homem que disparou tinha justamente acabado de entrar no quarto. Rodou a sua pistola, uma Makarov PM, habilmente em torno do dedo e alojou-a de volta no coldre. Toda a gente conhecia aquele homem. Trazia luvas e boina vermelha. Era a estrela brilhante do regime, o Coronel Aleksandr Leonovitch Spassky.
1 Comments:
vai spassky, tens o melhor penteado!
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