Post mortem
Edda Berttinzoli
A menina caminhava alegre pela borda do mar que em violentas ondas anunciava tempestade. Ela chamou, chamou e ninguém a ouviu. O Mundo estava prestes a desabar mas todos continuavam impávidos. Viam o mar mas por mais que a menina gritasse eles não ouviam. Num instante, o mar fez-se sereno.
À volta já não havia a azáfama habitual dos carros a passar em dia de Inverno chuvoso e lá estava sozinha ao sabor das ondas agora leves a menina que há instantes havia anunciado intempérie olhando para o raiar do sol quando se liberta das penosas nuvens.
Ao fundo avistava uma cabana degradada pelo vigor das ondas e para lá seguiu pé ante pé. O silêncio era impetuosamente assustador. Ao chegar lá deparou-se com um cubículo desabitado com um baú também gasto pelo tempo. No entanto, em cima da mesa estava uma chave de ouro, que reflectia intensamente os raios que se puseram pouco antes, e um papel. Preferiu guardar a chave e o papel e descansar da longa caminhada que tivera. O seu cansaço era avassalador.
Na manhã seguinte acordou com o som do vento. Foi ler o que o papel dizia:
Um dia acordei esplendoroso
Saudável, forte, indefectível
E assim te falo saudoso
Do que sempre era até hoje.
Com a chave abriu o baú rangendo.
Dias passaram,
Anos,
Décadas,
Séculos,
Milénios,
A inocência perdida fora finalmente recuperada e uma nova geração de criaturas capacitadas de apreensão, processamento e resposta mental foi criada. Nas pedras restaram apenas as marcas de uma Humanidade que perdeu a sua oportunidade de expandir e manter em equilíbrio. O Sol é agora vermelho, não há nuvens, água apenas em pensamento, a menina permanece em fóssil.
Seremos ainda capazes de alterar?
1 Comments:
Há diass em que sentimos,que por mais gritos que demos, ninguem nos ouve..
és cheio de talento rui (:
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