2.2.05

A voz do leitor

Sócrates VS Sócrates

"AS ApologiaS de Sócrates"

-O que eles disseram tem pouco ou nada a ver com a verdade. Da minha boca não ouvireis, todavia, senão a verdade.
-Discursos subtilmente enganosos, construídos com palavras e locuções rebuscadas, tal como os discursos dos meus acusadores.
-Considereis de preferência e atentamente apenas isto: se o que digo é justo ou não, pois nisso consiste a virtude de juiz, enquanto virtude do orador consiste em falar a verdade.
-Há aí um tal Sócrates, um sábio, ponderador dos meteoros pesquisador das coisas subterrâneas e que faz triunfar o argumento mais débil sobre o mais forte.
-Sócrates é um deliquente, culpado de indagar com impiedade os segredos que há sob a terra e no céu, de fazer prevalecer os argumentos nocivos, e de ensinar os outros a fazer o mesmo.
-Um tal Sócrates, aí posto em cena, que se vangloria de deambular pelos ares, que recita toda a espécie de tolices, acerca das quais nada compreendo, nem muito nem pouco.
-Eis, afinal, um homem que é mais sábio do que eu, quando tu dizias que eu era sábio(...) que era um dos nossos políticos. pareceu-me sábio aos olhos de muita gente principlamente aos seus próprios olhos, embora de modo algum o fosse.
-A impressão que me ficou foi esta: os que me pareceram, quando os examinava, guiado pela intenção do deus, os mais deficientes, enquanto outros, tidos e havido como inferiores, me pareceram bem superiores em saber.
-Ó homens, o mais sábio de vós é aquele que, como Sócrates, sabe que afinal de contas, o seu saber é nulo.
-É um tal Sócrates,um maltrapilho, que corrompe a juventude.
-Compreende-se que não queiram dizer a verdade...
-Sócrates é culpado de corromper a juventude, de não crer nos deuses da Cidade, mas em outros novos demónios.

- E não será a mais repreensível IGNORÂNCIA, essa de julgar conhecer o que não se conhece?

-Se me tivesse dedicado à política, já estaria morto há muito tempo, sem ter sido bom, nem para vós, nem para mim próprio.Quem combate de verdade pela justiça, se desejar viver algum tempo, temd e se remeter à vida privada, e evitar a particpação na vida pública
-Fui condenado....por falta de astúcia e de imprudência, por não ter vontade de DIZER o que teríes ESCUTADO COM GOZO....essas que estais acostumados a ouvir de outros réus.
- Se pensais que, matando homens, silenciais os que vos reprovam, porque não procedeis conforme deveis, estais enganados.

Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a VIDA. Qual dos destinos é o melhor, a não ser o deus, NINGUÉM O SABE....

Adaptado de "Apologia de Sócrates"





Dissertação sobre a Liberdade


Liberdade o eterno lugar comum: acaba quando a do outro começa

Ninguém é capaz de saber tudo, como tal, não temos outro remédio senão escolher e aceitar com humildade o muito que ignoramos. Pode viver-se sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, mas VIVE-SE. Podemos viver de muitas maneiras, mas há maneiras que não deixam viver.
De entre todos os saberes possíveis existe um que nos é imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não. No entanto o que pode por vezes ser bom, pode vir a tornar-se mau. A água tanto nos “mata” a sede como nos afoga. A mentira destrói a confiança entre as pessoas, mas pode ser útil ou benéfico mentir em vista de se conseguir alguma vantagem. Será melhor dizer a um doente que sofre de cancro incurável, a verdade sobre o seu estado, ou deveremos ocultar-lhe este facto de forma a passar sem angústia as suas últimas horas? Por outro lado, aquele que diz sempre a verdade costuma ter problemas com toda a gente. Assim, está mais que visto que o mau parece às vezes tornar-se mais ou menos bom e o bom em certas ocasiões aparência de mau!!
Saber viver nunca foi fácil, visto ser preciso saber o que é certo e o que devemos fazer. Há quem diga que viver para os outros é o que há de mais nobre enquanto outros dizem que o mais útil é fazer com que os outros vivam para nós. O que conta é ganhar dinheiro e nada mais, enquanto que outros defendem que o dinheiro sem saúde, tempo livre, afecto sincero, ou serenidade de espírito nada vale. Preso por ter cão e preso por não se ter….Duma coisa estamos certos e concordantes: nem todos estamos de acordo. Existem questões acerca das quais estamos todos de acordo: uma pedra cai sempre para baixo e não para cima, os castores fazem as represas nos ribeiros e as abelhas favos com alvéolos, e nunca estas se dedicaram à engenharia hidráulica, nem os outros a fazer favos de alvéolos. No mundo animal tudo é como é, não existe bom nem mau, embora talvez a mosca ache que a aranha é má, e que as anémonas são boas para o peixe palhaço; é a Lei da vida…
Sendo assim, chegamos a uma grande questão, questão de todos os tempos: Liberdade.
Os animais não podem evitar ser como são, contrariar a sua natureza, não podendo comportar-se de outro modo pois esta não lhe permite. Desta forma, não os podemos censurar ou aplaudir. Este facto poupa-lhes sem dúvida muitas dores de cabeça e uns tantos conflitos. Inicialmente também assim era o Homem, hoje em dia….já não me atrevo a dizer o mesmo… De certo modo, o facto de estarmos inseridos, mal nascemos, numa sociedade que determina o nosso pensamento, impondo-nos uma linguagem, costumes, regras, tradições: factores de socialização, torna-nos bastante previsíveis. Mas apesar tudo, ao contrário dos animais, temos a capacidade de poder dizer “sim” ou “não”, “gosto” ou “não gosto”, por mais que as circunstâncias nos indiquem um caminho podemos sempre optar pelo que melhor nos convém; é esta a definição de Liberdade. Certo é, que não podemos fazer tudo o que queremos, mas sem dúvida que não somos obrigados a fazer um só coisa.

Vejamos então:
1-Não somos livres de poder determinar a nossa personalidade, se queremos ser altos ou baixos, simpáticos ou antipáticos, bonitos ou feios, mas somos livres de reagirmos desta ou daquela forma ao que nos acontece, vestir-nos segundo a moda ou de outra forma, fugir de um ladrão ou espetar-lhe um murro, sermos incorrectos ou bem educados.
2- Liberdade e omnipotência são coisas muito diferentes. Ser-se livre de obter alguma coisa é diferente da sua obtenção indefectível. Há que ter consciência das nossas capacidades e até onde elas nos levarão. Há coisas que dependem da nossa vontade, enquanto que outras não, caso contrário seríamos omnipotentes
Se tentarmos averiguar qual o significado de Liberdade, a maioria das pessoas dirá: Liberdade? Como é que poderemos ser livres, se todos os dias, (e cada vez mais) nos lavam o cérebro, seja pela televisão, seja pelos (des)governantes que nos manipulam. Essas pessoas, se notares bem, falam assim em tom de queixa. Não lamentam a sua condição, pelo contrário, sentem-se aliviados por assim ser. Responsabilidade? Não é sua concerteza…Como é bom poder fazer o que nos dá na “gana”….que peso tirado dos ombros….ufff. Por vezes é mais fácil optar pelo mais fácil….sentar-se no sofá a beber bejecas e comer tremoços…qual liberdade!
Ao contrário de outros seres, temos este desígnio, podemos ser criadores de parte da nossa vida, podemos escolher o que nos convém e nos parece melhor, e por isso mesmo, podemos enganar-mo-nos, coisa que não acontece com as abelhas e com os castores. Assim, parece prudente estarmos atentos ao que fazemos e tentarmos adoptar um certo modo de vida que nos permita acertar, não deixando no entanto, de ser REVOLUCIONÁRIO!!!

Baseado em “Ética para um Jovem” de Fernando Savater


Da Rita Rodrigues, assídua leitora deste blog.
Sem censura claro.