19.12.04

No imediato

A força da maioria

Cartazes e mais cartazes. No silêncio ensurdecedor da noite os “morcegos” enchem as ruas de rectângulos coloridos. “Pela maioria absoluta!” gritam uns, “A força do povo somos nós” desabafam outros. São tão diferentes ou são todos da mesma corja? – Eles querem é tacho! – Ouve-se um homem de meia-idade, dos seus 50 anos, digo, enquanto vende camisolas de selo italiano fabricadas em Alcobaça. Depressa chega um senhor que parece importante ou pensa que é com meia dúzia de panfletos que projectam o país para a prosperidade absoluta. Diz que ouviu as reclamações do feirante (na verdade ele não disse mais nada do que a típica frase do tacho), entrega uma rosa e quase me convence que está preocupado. De trás da banca o feirante mostra-se desconfiado mas animado dando sinais de esperança (ai ilusão, de tantos sonhos alimentada…). Ah pois é, estava lá a televisão a filmar. Com aquela cena digna de um auto de Gil Vicente um quadradinho está assegurado e mais o de mil, duzentas e trinta e cinco pessoas (mil, cento e quatro se no dia das eleições os termómetros marcarem mais de trinta graus).
Em jantares fartos, há chefes ao fundo da mesa! No meio está o principal, o «chefe-mor» que se levanta sobe ao palanque e entre o chinfrim dos talheres e de bocas semi-cheias começa a falar. Apela ao voto em massa, à protecção das criancinhas, do pensionista, da polícia, dos bombeiros, dos doentes em lista de espera, do simples contribuinte. Sempre a mesma mensagem em embrulhos (palavras) diferentes. No fim do discurso há a habitual salva de palmas apoteótica como se de um herói o orador se tratasse.
Depois há os debates esclarecedores em que nenhum dos intervenientes consegue terminar uma frase sem ser interrompido por um “Ó doutor, doutor…”. É giro que existam no nosso sistema político 15 a 20 partidos. Eu só ouço pessoas de 5. “Pluralismo!” evocam eles.
Nos últimos dias, mais do que nunca, os propagandistas buscam o mais profundo sentimentalismo que existe em nós. Ou a solução ou inferno social.
No dia das eleições 50 % não aparece e da outra metade, quatro quintos votam sempre nos mesmos dois. Bravo, temos um sistema de rotatividade! Ouçam países de todo o mundo, nós rodamos!
O medo de mudança é algo que não desaparece de um momento para o outro, aliás, só com muita força é que se chega lá.
Depois de uma História do Homem tão rica, havia isto de ser o fim da evolução? Nem pensar!

3 Comments:

At 8:36 da tarde, Blogger impulsitem said...

um viúvo aposentado e esquecido

 
At 11:19 da manhã, Blogger KOE said...

eh, hum. umas mais outras menos. mas mais mais que menos. editar é giro também.

 
At 4:52 da tarde, Blogger B94 said...

Azar o teu!

 

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