Novos Novos Contos do Gin
"Ah eu?" - pergunta Procópio Banana com o seu bigode fino oscilando como um berzuque. Um gin tónic em gelo ocupava-lhe a mão direita, ao passo que a esquerda segurava o seu paletó, com firmeza. Levanta-se.
"Não pensava que o apanhávamos pois não?" - inquiriu o espião, com uma 38 em punho apontada ao torax do espiado. Um cigarro (um Old Stone) pendurava-se-lhe do canto da boca, deixando cair alguma cinza para os sapatos.
"... Quer algo para beber?" - inquire Procópio Banana fazendo um movimento em direcção ao armário das bebidas.
"Não se mexa! Não, não quero nada para beber... um espião não pode beber em serviço, ainda acabamos a noite nalguma valeta em Marte, e bem sabe que o salário dos espiões não dá para viagens de ida e volta para Marte!"
"Desculpe! Não era minha intenção! Apenas para descontrair, parece tenso". - disse Procópio com uma expressão que não enganava ninguém.
"Bem,... seja! Uma ginginha-kirsch, então. Mas nada de movimentos bruscos!"
"Não se preocupe!" - enquanto se dirigia para o armário para preparar as bebidas, ginginha-kirsch para o espião (que entretanto se sentava numa poltrona), e mais um gin tónic para ele. Surrepticiamente palma o abre-garrafas, e mete-o ao bolso. A 38 continuava bem apontada a ele.
"Então, conte-me lá, como é que você se foi meter nessa encrenca do HERALDO MAGAZIN ?" - disse o espião enquanto Procópio Banana lhe passava o copo para a mão.
"Ah... isso foi já há muito tempo. Um tal Sargento-mor chamado Luc Gratin (que agora acho que é Tenente-Coronel na Armórica) tinha-me falado de que havia dinheiro a ser feito na indústria da imprensa. Eu na altura tinha acabado de sair da escola de advocacia, mas tinha herdado por sorte uma pequena fortuna de um tio que falecera uns bons dois anos antes desse episódio. Adiante. Decido então investir num pasquim chamado O Abrunho. Tomo atenção total ao capital, mas concedo a liberdade literária aos escritores, exigindo no entanto a mudança do nome do jornal para HERALDO MAGAZIN em homenagem ao meu tal tio Heraldo visto que sem a sua morte, e que Deus o tenha entre os dele, nada teria sido possível. Pois ora bem, para cortar a história mais miúda, que o resto é já conhecido, à medida que os anos passavam o HERALDO começou a tornar-se mais e mais popular e os lucros aumentavam. Mas com os lucros vinham também as despesas e começava a ser acossado diariamente pelos credores. Acontecia que me tinha já habituado a uma vida de luxos. Um punhado de casas por todo o lado, casamentos e divórcios em períodos regulares de dois anos, carros, iates e etcétera: as coisas não corriam bem, começava a ficar endividado até ao pescoço! Era o declínio do meu império. Decidi então passar o HERALDO à concorrência, que se lixasse, o que importa é a saúde. No entanto, sem fonte de rendimento segura estava condenado a arranjar outra maneira de fazer pela vida. Ora, apesar do bacharelato em advocacia, já não me via como um simples advogado, eu que havia sido um dos homens fortes do país. Ora por isso mesmo pus-me a pensar. Ao longo dos anos tinha criado várias amizades com figuras políticas, importantes ícones nacionais. O General Bonafraga, o ministro da Arménia, o Correia Sagão, e até com o Presidente. Com o meu jeito para o negócio, decidi oferecer-me aos soviéticos, que tinham que chegasse para me pagar as hipotecas lá com a perestroica deles. Mas atenção, não sou comunista! Antes morto que vermelho! Só que... num mundo cão, temos todos de nos desenrascar. E agora chamam-me culpado, sou culpado eu? Eu, um homem temente a Deus, que nunca matei ninguém, sou culpado?"
Por esta altura o espião havia já sorvido duas ginginhas e um vodka duplo, sem gelo. As pálpebras caíam-lhe cansadas, e a mão direita afrouxava o aperto na 38. Subitamente esta cai dura no chão: o espião adormecera. De imediato Procópio pega no saca-rolhas e espeta-o com violência na garganta do espião, forçando e torcendo, um, dois minutos, até ele parar de estrebuchar. Então levanta-se, acaba o seu gin tonic e parte para França, para os castelos.
4 Comments:
QUERO MAIS
'paletó' eriça os pêlos das costas das minhas mãos. só.
PALETÓ PALETÓ PALETÓ PALETÓ, estas todo eriçado (mas só nas costas das tuas mãos, que aliás, cabem bem nos bolsos das tuas calças).
isso foi
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