26.2.09

Soneto

O néon brilha no mármore
Reluz como penas de anjo
Ainda a arder na carne
Dos meus olhos.

A tua visão é tão intensa
Como o teu toque
As lágrimas que me provocas
São como me queimasses se te tocasse, com as mãos.

A tua essência de alta densidade
Arrasta contigo o Tempo, sinto a Vida parar
Por ti.

Se aguardo impaciente por me insuflar apenas do teu fôlego
É porque renego tudo mais
Só tu.

26/02/09

Recupero lentamente de um momento de abstracção
Não dou comigo inteiro, perdi a mão
Um naco de carne inútil, no chão
Já não pega, agarra, prende, esta mão.

Ainda que decepada me dói ainda
Todo o potencial digital desperdiçado
Tenho menos apêndices para ordenar
Mas a minha vontade é ainda maior.

As nossas mãos estão bem longe de nós
São as primeiras a tocar
São as últimas a largar
Mas eu perdi a mão, já não sou gente como os outros.

O que posso eu fazer com uma mão só
Quem me dera ter uma sobresselente
Já só me resta mais uma mão,
Que ainda por cima não está por aí além estimada.

25.2.09

PALINDROMO

ATORREDADERROTA

19.2.09

A Necessidade de Troar pela Terra

O Solilóquio soturno que concretiza a minha assunção
De Pessoa Má.
O Desejo infinito de soerguer à trivialidade
A mundanidade que me enoja
Mas é a Base do Ser.

Se falho concretizar-me como Pessoa
Que mais me resta ser?
Esta carapaça orgânica em que me apodreço
Alguém que me leve aos Céus
Banhar-me nos seus Mares de Espuma

Consumir-me nesse Fogo Perfumado
Cordilheiras tortuantes, a sensação de
tontura e enjôo da exilaração suprema
Vomitar de alegria no meu Ser,
Falta-me ainda tudo isto.

A inexorabilidade de não ter mais tempo do que o tempo que eu tenho
Uma Doença Verdadeira para a qual Renegaria Clemência
Se ma dessem. A Extinção como único consolo
A idade como sublimação dos dias que quero apossar
A Necessidade de Troar pela Terra

19/02/09

Aquele desejo de tudo exprimir por palavras novas
De reinventar a língua a cada fôlego
A perseguição daquela frase perfeita
Que inspira toda a gente.

O que pode alguém escrever
Se não o sabe bem dizer
Devo ter caído de cabeça
Num ano longínquo e incerto.

Se me pudesse realizar
Como ser imaginário
Seria feliz e perfeito,
Porque o não sou realmente.

Não há vigor mais supremo
Que a poesia, a dança, a pintura
Nenhuma maneira de expressão mais bela,
Transformar o Interior no Exterior.