28.2.05

Post mortem


Edda Berttinzoli



A menina caminhava alegre pela borda do mar que em violentas ondas anunciava tempestade. Ela chamou, chamou e ninguém a ouviu. O Mundo estava prestes a desabar mas todos continuavam impávidos. Viam o mar mas por mais que a menina gritasse eles não ouviam. Num instante, o mar fez-se sereno.
À volta já não havia a azáfama habitual dos carros a passar em dia de Inverno chuvoso e lá estava sozinha ao sabor das ondas agora leves a menina que há instantes havia anunciado intempérie olhando para o raiar do sol quando se liberta das penosas nuvens.
Ao fundo avistava uma cabana degradada pelo vigor das ondas e para lá seguiu pé ante pé. O silêncio era impetuosamente assustador. Ao chegar lá deparou-se com um cubículo desabitado com um baú também gasto pelo tempo. No entanto, em cima da mesa estava uma chave de ouro, que reflectia intensamente os raios que se puseram pouco antes, e um papel. Preferiu guardar a chave e o papel e descansar da longa caminhada que tivera. O seu cansaço era avassalador.
Na manhã seguinte acordou com o som do vento. Foi ler o que o papel dizia:

Um dia acordei esplendoroso
Saudável, forte, indefectível
E assim te falo saudoso
Do que sempre era até hoje.

Com a chave abriu o baú rangendo.
Dias passaram,
Anos,
Décadas,
Séculos,
Milénios,
A inocência perdida fora finalmente recuperada e uma nova geração de criaturas capacitadas de apreensão, processamento e resposta mental foi criada. Nas pedras restaram apenas as marcas de uma Humanidade que perdeu a sua oportunidade de expandir e manter em equilíbrio. O Sol é agora vermelho, não há nuvens, água apenas em pensamento, a menina permanece em fóssil.

Seremos ainda capazes de alterar?

26.2.05

Análise imediata das eleições não imediatamente feita

Poderia começar este post com uma fotografia do Sócrates por entre braços e abraços de pessoas que com bafo alcoolizado gritavam efusivamente pelo PS, essas mesmo que gostam do PS como gostam do Benfica, do Sporting e do Porto. com uma empatia que não se consegue explicar, irracional. Mas não.
Em minha opinião, modesta pois claro, este foi o pior resultado eleitoral desde outra maioria absoluta, a do PSD de Cavaco Silva. E porquê? Podendo eles decidir sem a necessidade de aprovação de diferentes sensibilidades políticas caem facilmente em autoritarismo, às vezes dificilmente detectável mas sempre com os piores efeitos.
Vamos a uma previsão das primeiras medidas do novo Primeiro Sócrates:
- Plano, choque tecnológico (se for tão eficaz como o choque fiscal dos anteriores vamos acabar a escrever estes textos à mão)
- Dar emprego a 150000 almas (mesmo que conseguisse daqui a 4 anos novamente com o PSD no poder seriam facilmente despedidos - pelo bem do défice)
- Trocar as pessoas nos cargos destinados à pasta jobs for the boys (inteligentes são aqueles que desde pequeninos se posicionam nas jotas para isso - atenção a quem estiver interessado: só funciona com a JS e a JSD)
- Alargar a Via do Infante

A subida do BE

Partido, coligação de orientação política indeterminada oriunda de extremistas do PSR e UDP. Um dia rotulados de extrema-esquerda, no seguinte de social-democratas, e passado uma semana de neo-liberais mas sempre sempre Trotskistas.
Elegeram o 2º deputado de Setúbal por 50 votos tirando um à CDU.
Não elegeram um em Aveiro por 200 votos.
Não elegeram um em Braga por 400.
Foram terceira força política em alguns distritos, em Coimbra por exemplo.
Subida assinalável. Têm dois caminhos possíveis e prováveis (por mais anatagónico que pareça): ou aumentam ainda mais a sua força ou caem no esquecimento.


A recuperação da CDU

Quem disse que o PCP-PEV estava em declínio irreversível enganou-se. A figura paternal e simpática de Jerónimo de Sousa fez ganhar 2 deputados para além de que muitos jovens (pasme-se, jovens!) ainda escolhem esta coisa agressiva e perigosa, o comunismo.

Portas bate com a porta

Aquele discurso depois de saber os resultados quase me fez chorar. Que pena eu tenho de este democrata cristão que defendia ferozmente os interesses das mulheres com o aborto, os direitos civis com a expulsão de emigrantes e a protecção de trabalhadores e reformados com o reforço da exploração do patronato e do silêncio forçado de trabalhadores.
Feiras já não era com ele... pois, quem tem cu tem medo.

Super Santana

Herói de banda desenhada às vezes parecia, tais era o fraco apoio que tinha mesmo no seu partido. No entanto estava disposto a tornar-se no Sá Carneiro versão 2.0 e ser venerado pelos seus colegas até à eternidade a todo o custo.
O "Rei das Eleições" abdicou do trono. No meio de calinadas, incompetência e subjugação aos irmãos cristãos não conseguiu captar a atenção do eleitorado - a voz rouca não ajudou.
Agora esperamos por ele nas Eleições Presidenciais... ou não.


Parece que mudou muita coisa, mas ficou tudo na mesma. Daqui a 4 anos voltam os mesmos de agora no mesmo ciclo que aparentemente não termina. Os santos de hoje são os diabos de amanhã e vice-versa.

o objectivo destas palavras não era fazer uma análise exaustiva da situação porque comentários de donos da verdade já estamos fartos de ver.

20.2.05

Putas Políticas

Viva a democracia! Eia pá!

16.2.05

Dois dias volvidos.

">

ai volto, unstante. hai.

num entretanto

Image Hosted by ImageShack.us

15.2.05

a culpa

ofendidos (eu)
avatares (try)

já volto

Image Hosted by ImageShack.us

a sério

já venho

Image Hosted by ImageShack.us

critical

12.2.05

Viver

Lembrar. Esquecer. Rir. Chorar. Agradecer. Lamentar. Acusar. Elogiar. Gostar. Detestar. Criticar. Desejar. Imaginar. Sonhar. Desiludir. Enfrentar. Fugir. Enervar. Acalmar. Jogar. Ganhar. Perder. Zangar. Perdoar. Negar. Reconhecer. Cumprir. Confiar. Duvidar. Orgulhar. Envergonhar. Emocionar. Odiar. Amar.


That’s what life is (all) about.

10.2.05

A Pirâmide


4.2.05

Pete, o Capataz

Ia um homem pela rua.
Nu, pronto não, mas andrajoso.
Caminhava à luz da lua,
Manqueando como um leproso.

Trabalha. Imenso. E bem.
É o capataz de embarques.
Espera reformar-se, hein
E então passear-se pelos parques.

Pelas ruas então ia
Com algum destino traçado
Se calhar ele próprio o desconhecia,
Para onde o levaria o fado?

Bem (para manter a história reduzida),
Aqui vos digo o que lhe sucedeu
Na esquina da rua com a avenida
Um carro o atravessou. Faleceu.

Produções KOE, um produto original registado KOE, TODOS os Direitos Reservados. Todos.


com licença

serve o presente para notificar o mundo da minha intenção de ainda hoje aqui publicar umas quantas linhas. mais, porém, se adianta que em boa hora será apagado.

o software proprietário

2.2.05

A voz do leitor

Sócrates VS Sócrates

"AS ApologiaS de Sócrates"

-O que eles disseram tem pouco ou nada a ver com a verdade. Da minha boca não ouvireis, todavia, senão a verdade.
-Discursos subtilmente enganosos, construídos com palavras e locuções rebuscadas, tal como os discursos dos meus acusadores.
-Considereis de preferência e atentamente apenas isto: se o que digo é justo ou não, pois nisso consiste a virtude de juiz, enquanto virtude do orador consiste em falar a verdade.
-Há aí um tal Sócrates, um sábio, ponderador dos meteoros pesquisador das coisas subterrâneas e que faz triunfar o argumento mais débil sobre o mais forte.
-Sócrates é um deliquente, culpado de indagar com impiedade os segredos que há sob a terra e no céu, de fazer prevalecer os argumentos nocivos, e de ensinar os outros a fazer o mesmo.
-Um tal Sócrates, aí posto em cena, que se vangloria de deambular pelos ares, que recita toda a espécie de tolices, acerca das quais nada compreendo, nem muito nem pouco.
-Eis, afinal, um homem que é mais sábio do que eu, quando tu dizias que eu era sábio(...) que era um dos nossos políticos. pareceu-me sábio aos olhos de muita gente principlamente aos seus próprios olhos, embora de modo algum o fosse.
-A impressão que me ficou foi esta: os que me pareceram, quando os examinava, guiado pela intenção do deus, os mais deficientes, enquanto outros, tidos e havido como inferiores, me pareceram bem superiores em saber.
-Ó homens, o mais sábio de vós é aquele que, como Sócrates, sabe que afinal de contas, o seu saber é nulo.
-É um tal Sócrates,um maltrapilho, que corrompe a juventude.
-Compreende-se que não queiram dizer a verdade...
-Sócrates é culpado de corromper a juventude, de não crer nos deuses da Cidade, mas em outros novos demónios.

- E não será a mais repreensível IGNORÂNCIA, essa de julgar conhecer o que não se conhece?

-Se me tivesse dedicado à política, já estaria morto há muito tempo, sem ter sido bom, nem para vós, nem para mim próprio.Quem combate de verdade pela justiça, se desejar viver algum tempo, temd e se remeter à vida privada, e evitar a particpação na vida pública
-Fui condenado....por falta de astúcia e de imprudência, por não ter vontade de DIZER o que teríes ESCUTADO COM GOZO....essas que estais acostumados a ouvir de outros réus.
- Se pensais que, matando homens, silenciais os que vos reprovam, porque não procedeis conforme deveis, estais enganados.

Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a VIDA. Qual dos destinos é o melhor, a não ser o deus, NINGUÉM O SABE....

Adaptado de "Apologia de Sócrates"





Dissertação sobre a Liberdade


Liberdade o eterno lugar comum: acaba quando a do outro começa

Ninguém é capaz de saber tudo, como tal, não temos outro remédio senão escolher e aceitar com humildade o muito que ignoramos. Pode viver-se sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, mas VIVE-SE. Podemos viver de muitas maneiras, mas há maneiras que não deixam viver.
De entre todos os saberes possíveis existe um que nos é imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não. No entanto o que pode por vezes ser bom, pode vir a tornar-se mau. A água tanto nos “mata” a sede como nos afoga. A mentira destrói a confiança entre as pessoas, mas pode ser útil ou benéfico mentir em vista de se conseguir alguma vantagem. Será melhor dizer a um doente que sofre de cancro incurável, a verdade sobre o seu estado, ou deveremos ocultar-lhe este facto de forma a passar sem angústia as suas últimas horas? Por outro lado, aquele que diz sempre a verdade costuma ter problemas com toda a gente. Assim, está mais que visto que o mau parece às vezes tornar-se mais ou menos bom e o bom em certas ocasiões aparência de mau!!
Saber viver nunca foi fácil, visto ser preciso saber o que é certo e o que devemos fazer. Há quem diga que viver para os outros é o que há de mais nobre enquanto outros dizem que o mais útil é fazer com que os outros vivam para nós. O que conta é ganhar dinheiro e nada mais, enquanto que outros defendem que o dinheiro sem saúde, tempo livre, afecto sincero, ou serenidade de espírito nada vale. Preso por ter cão e preso por não se ter….Duma coisa estamos certos e concordantes: nem todos estamos de acordo. Existem questões acerca das quais estamos todos de acordo: uma pedra cai sempre para baixo e não para cima, os castores fazem as represas nos ribeiros e as abelhas favos com alvéolos, e nunca estas se dedicaram à engenharia hidráulica, nem os outros a fazer favos de alvéolos. No mundo animal tudo é como é, não existe bom nem mau, embora talvez a mosca ache que a aranha é má, e que as anémonas são boas para o peixe palhaço; é a Lei da vida…
Sendo assim, chegamos a uma grande questão, questão de todos os tempos: Liberdade.
Os animais não podem evitar ser como são, contrariar a sua natureza, não podendo comportar-se de outro modo pois esta não lhe permite. Desta forma, não os podemos censurar ou aplaudir. Este facto poupa-lhes sem dúvida muitas dores de cabeça e uns tantos conflitos. Inicialmente também assim era o Homem, hoje em dia….já não me atrevo a dizer o mesmo… De certo modo, o facto de estarmos inseridos, mal nascemos, numa sociedade que determina o nosso pensamento, impondo-nos uma linguagem, costumes, regras, tradições: factores de socialização, torna-nos bastante previsíveis. Mas apesar tudo, ao contrário dos animais, temos a capacidade de poder dizer “sim” ou “não”, “gosto” ou “não gosto”, por mais que as circunstâncias nos indiquem um caminho podemos sempre optar pelo que melhor nos convém; é esta a definição de Liberdade. Certo é, que não podemos fazer tudo o que queremos, mas sem dúvida que não somos obrigados a fazer um só coisa.

Vejamos então:
1-Não somos livres de poder determinar a nossa personalidade, se queremos ser altos ou baixos, simpáticos ou antipáticos, bonitos ou feios, mas somos livres de reagirmos desta ou daquela forma ao que nos acontece, vestir-nos segundo a moda ou de outra forma, fugir de um ladrão ou espetar-lhe um murro, sermos incorrectos ou bem educados.
2- Liberdade e omnipotência são coisas muito diferentes. Ser-se livre de obter alguma coisa é diferente da sua obtenção indefectível. Há que ter consciência das nossas capacidades e até onde elas nos levarão. Há coisas que dependem da nossa vontade, enquanto que outras não, caso contrário seríamos omnipotentes
Se tentarmos averiguar qual o significado de Liberdade, a maioria das pessoas dirá: Liberdade? Como é que poderemos ser livres, se todos os dias, (e cada vez mais) nos lavam o cérebro, seja pela televisão, seja pelos (des)governantes que nos manipulam. Essas pessoas, se notares bem, falam assim em tom de queixa. Não lamentam a sua condição, pelo contrário, sentem-se aliviados por assim ser. Responsabilidade? Não é sua concerteza…Como é bom poder fazer o que nos dá na “gana”….que peso tirado dos ombros….ufff. Por vezes é mais fácil optar pelo mais fácil….sentar-se no sofá a beber bejecas e comer tremoços…qual liberdade!
Ao contrário de outros seres, temos este desígnio, podemos ser criadores de parte da nossa vida, podemos escolher o que nos convém e nos parece melhor, e por isso mesmo, podemos enganar-mo-nos, coisa que não acontece com as abelhas e com os castores. Assim, parece prudente estarmos atentos ao que fazemos e tentarmos adoptar um certo modo de vida que nos permita acertar, não deixando no entanto, de ser REVOLUCIONÁRIO!!!

Baseado em “Ética para um Jovem” de Fernando Savater


Da Rita Rodrigues, assídua leitora deste blog.
Sem censura claro.